AmbiDestro
23.9.08
Acompanhadamente só
É mero embuste
Meio para revestir uma verdade interminável
Continente de uma realidade intransponível
Sou triste
Por mais que ponha a alegria em riste
Apesar de negar os meus pesares
Ainda que cantando muitos males
Tudo se me é inefícuo, prejudicado
Nada a que me entrego me decanto
Assim, atiro-me, almejo-me
Não que eu me aspire
Somente consigo convulsionar meu peito
Ingratamente repleto de vazio
Inexplicável; suspiro
Qualquer prazer assim me parece
Toda e qualquer dor me padece
Ínfima oração me forma prece
Colossais detalhes me aquecem
Nada além disso
Caráter meramente transitório
Faço-me passagem d'um caminho
Absolutamente desconhecido do que sou
O tudo sempre desagrega
Pensamento, cor e vento
Neste tempo meu impossuido
As pessoas que por mim ficam
Derradeiramente passam
Olho-me crédulo, porém inquieto
Tornei-me um algo sem alguém
Escondido na própria liberdade
Aprisionado pela ausência de sanções
Livre das condenações que desobrigam
Imaculado de chagas e marcações
Fui ao além em só e só eu estou
O medo de ser uno e único
Desaborrece
O que culmina, alucina, calcina
É acabar por querer o que me resta
Eu mesmo
Sozinho
Soturno
Conformado
Silente
De tudo e todos ausente
Não o bastante; suficiente
Não arrogante; prepotente
Não egoísta; indolente
Não parado; semovente
Tocado pelo tempo: intangível ente
30.7.08
Efeito fim de semana
Algum assunto importante
Qualquer urgência pungente
Problema maior comovente
Mas só minha saudade grita
Num silêncio devastador
Atravessa minha surdez insana
Que não vê outra coisa
A não ser a distância
De sua respiração em meu corpo
Sangro cego e seco
Um tempo que não me espera
Momento que desagrega
Lembrança que desespera
E simplesmente espero você
Na tentativa infantil de nos agregar
Consumo suas palavras ditas
Meus olhos escutam sua voz
Saboreiam a maior das delícias:
Palavras que vertem da sua boca...
Derramando desejo, vontade, apego
Transformando toda minha prudência em indecência
Toda minha quietude em desassossego
Minha fortaleza imposta em puro aconchego
Tradução de querer você
Desinteressado em acerto ou erro
Vivo o presente em exagero
Intenso em cada presença sua
Nas ausências, mero passageiro
Vivo em viajar no seu cheiro
Que me faz parar e pensar
Não no que posso
Nem no que devo
Apenas no que consigo;
Adorar, verbo pequeno...
1.6.08
Esquisito
Teria você
Coragem para mudar minha vida?
Seria capaz
De destruir meu mundo
E ser congratulada por isso
De todas as promessas que poderia fazer
Lhe daria a certeza maior
A solução verdadeira
Para minha única dúvida
Seria seu
Completo, certo, inteiro
São, humano: insano
Apenas intensamente único
Repleto
Ansioso por seu aceno
Que pode ser sutil
Quase imperceptível: nano
Singular e tão somente nosso
Sem projetos ou planos
Uma vida que quer apenas ser: sua
Não é um pedido
Súplica
Apelo
Um estender de mãos
É um eriçar de pelos
Aquele arrepio quente
Que verte do peito
Derretendo em suor nervoso
Sonha se encerrar no beijo
Enterrado no seu "aceito"
Assim, entre aspas
Simulando as asas do pensamento
Que sem pensar em mais nada
Miraram você
Sentiram simplesmente
E na provavel e ocorrível negativa
Presenteie-me com seu silêncio
Crepuscular, sepulcral
Serei egoísta em pedir
Que minha inquerida derrota morra em você
Nos arrepios como este
Se é que possível seja medi-los
Não queremos outro lugar
Que não seja o mais apropriado
Ao seu lado
Na alternativa realizadora
Não se acanhe
Me apanhe, deste jeito errado
Com o pronome vindo na frente
E depois o coloque no local desejado
17.5.08
14.5.08
13.5.08
Queria que fosse você
Certamente saberia o quanto marca
Como é fascinante simplesmente
Um ato banal como este
Novas realidades
Se apenas olhasse o horizonte
Mas faz pior, maltrata
Faz questão de mirar nosso desejo
Advinha nossas intenções
Desfila
Segura
Certa do que queremos
Definindo até onde podemos ir
Com um sorriso ou a falta dele
Dispara
E vai ou fica
Sorte para uns
Azar para outros
Sempre deslumbrante
Qualquer que seja a decisão tomada
Não bastasse toda essa maldade
Mira o sol nas tardes que sempre vêm
Mantém o rosto na claridade
Luz natural que lhe convém
Cintilando
Pedir para não olhar é fictício
Se já não posso tocar-lhe o cheiro
Ouvir-te a boca
Tocar seu viço
Tamanho desperdício
Perdido entre sair de mim e encontrar você
Continuo torto
Olhando de lado, escondido
Completamente iludido
Por sua falsa vontade de me conter
Tolice responder-me por que mirar-te
Sei todas as respostas
Ignoro perguntas a mais
Conheço todos os motivos
São todos eles reais
A voz
O corpo
O movimento
O jeito
O inexplicável que me atrai demais
10.2.08
O presente
É ver um amor desvigorar, desexistir, acabar
Mas há coisa muito pior, duradoura e eterna
Solene, plena e completa
Um amor pode não continuar
Ainda vivo, intenso, ardente
Enterrado, soterrado, acossado
Mesmo que livre para crescer
Cheio de esperança
Ele só tem isso
Nada que o apóie e o coloque de pé
Pulsante, desforme, desamparado
Parado numa vontade rota, torta
Quase morta
Uma fístula
Aquele concentrado de força de um lado só
Empuxo severo demais
Sobrecarga deveras estafante
Transcendendo o limite do possível
Impossível sofrer ainda além
Instalado o misto de dores
Confusão de prazer e horrores
Pois ao mesmo tempo que este amar só desola
Só o amor consola
Mas esperar indefinidamente, demora
Fosse este tempo menor
Mensurável nos parâmetros que conheço
É além, porém
e só suponho que o mereço
Escapam de minha ampulheta estes oceanos de areia
Secos e vastos
Amplos e nefastos
Embebecidos num vento árido
Rasgador de minha veste simples
Alma que liqüefaz por ti
Chorarei por dentro certamente
Cada lágrima que tocar meu solo solidão
Nutrirá semente chamada liberdade
Descomprometido de minha própria sentença e prisão
Amarei e serei amado de verdade